quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A um ti que eu inventei

Tinha que escrever...foi mais forte que eu!!
Falar em Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, António Gedeão, e não citar esta poesia seria como negar à ave o céu para voar.
Passo a explicar.
Em tempos existiu uma menina com um livro que guardava na sua mesa de cabeceira. Esse livro de lombada já aberta, insistindo em perder algumas folhas (por ela anotadas) mas, que a menina sempre juntava, seguiu os seus passos e, hoje colocado numa prateleira, regressa continuamente às suas mãos de mulher.
Mt

Título: Poesias Completas (1956-1967)
Autor: António Gedeão
Colecção Poetas de Hoje, 7ª Edição
Portugália Editora, Lisboa, 1978


Máquina de Fogo
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1961
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A um ti que eu inventei
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Pensar em ti é coisa delicada.
É um diluir de tinta espessa e farta
e o passá-la em finíssima aguada
com um pincel de marta.
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Um pesar grãos de nada em miníma balança,
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.
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Um desembaraçar de linhas de costura,
um correr sobre lã que ninguém saiba ou oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir.
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Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou película de loiça
que apenas com o pensar te pudesses partir.
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António Gedeão
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para ver e ouvir em:
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